MINHA VIDA NA FOTOGRAFIA
Comecei
a interessar-me pela arte fotográfica em Santa Maria, em 1947. Um irmão
marista, meu professor, elogiou uma foto minha, incentivando-me a continuar ao
dizer que era uma “foto artística”. Mudamos para Porto Alegre. Em 1953,
um colega de trabalho convidou-me para uma reunião no recém-fundado
Foto Cine Clube Gaúcho, onde me associei e aprendi as primeiras lições convivendo com ótimos fotógrafos.
Usando câmeras emprestadas,
participei do primeiro concurso interno como PRINCIPIANTE. Foi meu debute em
Arte Fotográfica. Meu amigo Leo Guerreiro ampliou duas fotos no laboratório do
Clube, em sua primeira sede na Rua Mal. Floriano, em frente à Praça Quinze. Obtive
o 2° e o 5° lugar.
No
ano de 1954, ainda na classe principiante, no fim do ano, ganhei duas “Taça de
Melhor Fotografia” e a “Copa de Melhor Conjunto” e passei para a classe
“médios”. Com o primeiro ganho na
profissão comprei um ampliador que hoje está no Museu Vila Rica e um colega
comprou para mim, na Alemanha, uma máquina barata, mas muito boa: uma Flexora.
Em 1955
tive minha primeira foto aceita no Salão Internacional de Avellaneda, na
Argentina.
Mudei para Júlio de Castilhos e
fiquei como Sócio Correspondente do FCCG por mais alguns anos.
Não parei mais de mandar fotos para
Salões Nacionais e Internacionais. Quase sempre tinha fotografias aceitas, mas
nunca premiadas e minha satisfação era ver meu nome nos catálogos e receber os
selos de aceite.
Aí eu já tinha passado da Flexora,
já tinha ido à Alemanha e comprado a minha Rolleiflex T, quando um amigo de
Santa Cruz disse que um colega dele tinha achado na rua uma máquina pesada que
não tirava boas fotografia e queria vender porque não prestava. Mandei o dobro
do dinheiro que me pedia e comprei a minha Leica M3 (a mesma que Cartier
Bresson usava sempre). Foi com ela que veio o meu primeiro prêmio, que eu chamo
de “tiro na lua”: ganhei com um eslaide, um 2º lugar no 9º Concurso Internacional de
Fotografia “Nikon”, 1977/78. Com ele, uma Nikon El2 e passei, então, a
atirar com chumbo grosso em tudo que era salão e concursos, sempre levando a
arte/hobby com muita seriedade.
Conquistei até hoje 70 prêmios. Não
significa muito para os 60 anos de arte fotográfica. Levei muita gente a
desfrutar desse apaixonante passatempo e quero levar você também:
CONVERSA SOBRE FOTOGRAFIA: Aos Principiantes na Arte
A fotografia é uma arte? Sem dúvida. É uma
arte visual.
Toda
a fotografia é uma obra de arte? Aí não. “Obra de arte é um artefato primoroso,
artístico, bem delineado, bem executado”, segundo o Caldas Aulette.
O
que faz uma fotografia ser boa ou má, agradável ou medíocre, ótima ou fraca,
atrativa ou não?
É
difícil dizer em poucas palavras. Difícil explicar o que desperta na alma o
sentimento de prazer e admiração. Tudo é tão subjetivo.
“A
arte é a expressão do belo” — disse alguém. Mas, o que é o belo?
O
belo para o sapo deve ser a “sapa”, certamente!
O Julgamento de uma obra fotográfica
sempre vai causar polêmica. Os concorrentes sempre terão dúvidas se suas fotos
são boas ou más.
A arte
nunca poderá ser avaliada por padrões exatos, matemáticos. Dois julgadores,
duas opiniões. O valor da obra vai ficar ao arbítrio de cada um. Por isso é
necessário que haja pelo menos três jurados nos concursos para dar uma média de
opinião.
O fotografo serve-se de uma imagem para transmitir suas ideias, sua
emoção, seus pensamentos, seu estado de ânimo, seu gosto pessoal — a outros
observadores.
A imagem é a materialização do meio que um fotógrafo
usa para comunicar-se com as pessoas. Há sempre o trinômio: criação – transporte – recepção.
O autor não precisa explicara sua obra, ela se basta
por si só. Se isso não acontecer houve alguma falha na criação da obra.
Sem arguir para nossa pessoa
nenhuma pretensão ou sabedoria, esta simples e sucinta conversa vai tocar em
alguns pontos. Oferecendo algumas ideias ou normas que regem a maioria dos
Salões de Arte Fotográfica e que orientarão aqueles que querem se iniciar nesse
agradável “hobby”. Não é nada nosso. Tudo compilações daqui e
dali. Ou experiências que nós, eternos amadores, fotógrafos amadores em
formação, fomos aprendemos com o passar do tempo: vendo, ouvindo, perguntando...
Esses itens de análise vão
nos dar uma pequena ideia da foto ideal,
da melhor foto.
ANÁLISE DE ARTE FOTOGRÁFICA
De
uma maneira geral, na análise de uma foto os Jurados vão se ater a quatro
qualidades principais: Visão ou concepção, Interpretação e tratamento,
composição e técnica de tomada.
1 —
Visão ou concepção
Uma
boa fotografia deve mostrar criatividade (visão pessoal do autor), originalidade
do tema apresentado por ele. Não deve ser um assunto banal, comum, confuso,
imitação de outras fotos, reprodução de temas vulgares. Nem todo o por-do-sol é
uma ótima obra. Precisa ter “algo mais”. Ser “fora de série”. Ter o impacto: O que faz que a gente se detenha olhando uma foto. O que desperte
a atenção.
2 — Interpretação e tratamento
Uma
boa foto deve ser adequada ao tema que desejamos expressar: Como o autor
interpretou o tema. Qual foi o objetivo da foto.
É importante
que a foto tenha um interesse amplo, geral, de modo a sensibilizar o maior
número de possíveis observadores. O ideal seria elevá-la ao nível universal.
O
julgamento de uma foto vai depender da sensibilidade dos jurados. Uns terão
mais sensibilidade que outros. (Por isso vale mandar a mesma foto de novo!!!)
A boa foto deve ter naturalidade. Ou
melhor, não deve ser artificial. Nem ter um interesse restrito. Um interesse
que seja limitado ou de caráter pessoal. A beleza, indiscutível, do nosso filhinho,
do netinho, do gatinho, nem sempre vão tocar a sensibilidade dos outros. Volto
a dizer que tem que ter o “algo mais”, que difere para cada jurado. Fora disso,
será apenas e simplesmente, um documentário (até bem feito) sem valor
artístico.
3 —
Composição
Um
fator importantíssimo num trabalho de Arte Fotográfica é a Composição
Artística.
Mas, o que é composição?
É o arranjo harmônico dos
elementos distribuídos no quadro da obra: formas, linhas, massas, tons, luzes,
sombras, etc. É o que dá o equilíbrio numa foto. Equilíbrio tonal e cromático. A
harmonia das cores, nas fotos coloridas.
Composição é a disposição
que o artista faz dos elementos que integram a foto para conseguir causar
impacto.
Equilíbrio: Os elementos da composição artística devem ser colocados no quadro
de tal modo que não fique mais pesado para um lado da foto.
Linhas:
Linhas retas — fotos pesadas. Linhas curvas — fotos leves, graciosas, suaves.
Tons: Tons claros — fotos ternas,
leves, elegantes.
Tons escuros — fotos austeras,
pesadas.
Podemos aprender composição com os artistas
plásticos. Principalmente, com aqueles que não discriminam a fotografia. Que
acham que fotografia não é arte. Que é só apertar o dedinho e que a câmera faz
o resto. Estes, não terão um dedinho de bom senso e aquela boa vontade que
caracteriza a alma simples dos grandes artistas.
Um
artista plástico mandou que eu quase fechasse os olhos e procurasse olhar o
trabalho, assim desfocado, através dos cílios. Ver se não há um peso de tons e
massas para um ou outro lado, que desequilibre o todo. Ajuda mesmo, tentem!
Um
ótimo livro de pintura serve também para fotografia: “Assim se compõe um
quadro” – Parramón. Se acharem, comprem.
4 — Técnica de tomada (e outras regras fundamentais)
Focalização: Foco
no assunto principal, o resto desfocado (focalização seletiva). Evitar o mesmo
valor de nitidez, tipo cartão postal.
Cuidar os elementos de
profundidade (uso do campo focal). Saber onde deixar o foco (ou o desfocado).
A originalidade do ângulo de tomada. Relação espacial entre o primeiro e outro
plano, que realça e dá força expressiva a imagem.
Pontos de fuga: (Elementos de perspectiva) Indica a direção do movimento. Deve se
encontrar dentro da foto e não fora. (Ex.: Evitar que o cachorro ou a pessoa olhe
pra fora da foto). A direção do olhar de uma foto se faz da esquerda para a
direita.
Clareza: Ter o cuidado de não encher o quadro com elementos alheios ao assunto.
(A poluição na fotografia!). Dar um centro principal de interesse. Muitos
elementos de interesse geram confusão. O tema essencial deve ser valorizado
pelos motivos complementares.
A imagem bem composta leva o
olhar do observador. Muitos sujeitos, o olhar pula de um para outro.
Unidade: Transmitir uma única
mensagem.
Ênfase: Aproximar-se do assunto. Dar
destaque ao assunto. Se houver, usar o zoom.
Simplicidade: “Toujour
la simplicité” – Mme. Schiaparellli dizia da moda. Requisito essencial. Sempre
agrada mais que a complexidade.
Ritmo: Unidade dentro da
diversidade. Repetição de elementos de dimensões, ou tonalidades ou cores
diferentes.
Regras básicas da fotografia:
Existem duas regras básicas:
Uma, chamada
a Regra dos Terços ou Teoria dos
Terços. Muito simples nas paisagens: a linha do horizonte deve ficar no terço
superior ou no inferior da foto. Deve-se evitar a linha no meio, dividindo a
foto em duas. Optar pela terra ou pelo céu.
O horizonte deve ficar
paralelo à moldura. Nunca inclinado. Aí tem o Picasa.
A outra regra é a do Ponto Ouro. Divide-se a foto em três linhas horizontal e
verticalmente. A intersecção delas é o ponto de interesse da foto. O assunto principal (uma pessoa,
um animal, uma casinha, uma árvore, etc.) deve ficar próximo a um destes quatro
“pontos fortes” ou “pontos de ouro” da fotografia.
A fala dos mestres:
Mortensen: “Fotografia artística é aquela que:
Pelo
simples arranjo nos obriga a vê-la.
Pelo
visto, olhá-la.
Tendo
olhado, gostar!”
Cartier-Bresson: Dizem que o falecido gênio francês da arte fotográfica, dizia que devemos
conhecer as regras da fotografia, para poder desobedecê-las!
Ele dizia mais:
“É o olhar, o único meio de expressão que
capta o momento. O instante, que nota a sensação de estar lá, vivendo intensamente”.
Temos que “esperar pela
fotografia”.
“A grande fotografia é um
presente. Um presente que lhe é oferecido, mas há o acaso. É preciso
aproveitar-se dele. É o único meio de expressão em que há uma luta contra o
tempo. O fotógrafo cria. Deus sabe o quê, mas, de repente. E corre o risco de
deixar passar o momento...”.
“Você vê alguma coisa e
pensa: devo tirar esta fotografia agora? Neste momento? Agora? A emoção
aumenta... É como um orgasmo! Em um momento determinado explode. Ou pegou este
momento ou falhou. É só um momento.
A fotografia é uma ansiedade
contínua... Uma ansiedade silenciosa. Uma angústia muito calma”.
Retrato. O fotógrafo espera
um momento interior que ele possa captar. Procura o silêncio dentro da pessoa.
O silêncio das pessoas para com elas mesmas”.
A fala de um firmino qualquer:
Se você gosta de fotografia, não ligue para
nada do que eu acima apresentei nessa conversa
sobre fotografia. Se tiver talento, então!...
Satisfaça, apenas, o “seu gosto”. O aprimoramento virá com o
tempo e a gratificação virá para todos, com certeza.
Um conselho pessoal: Olhou, gostou, bata! Bata de novo.
Outra vez, de jeito diferente, e deixe pra olhar em casa para ver se dá para aproveitar alguma coisa!
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