sábado, 12 de abril de 2014

APRESENTAÇÃO E CONVERSA SOBRE FOTOGRAFIA

            MINHA VIDA NA FOTOGRAFIA
  
Comecei a interessar-me pela arte fotográfica em Santa Maria, em 1947. Um irmão marista, meu professor, elogiou uma foto minha, incentivando-me a continuar ao dizer que era uma “foto artística”. Mudamos para Porto Alegre. Em 1953, um colega de trabalho convidou-me para uma reunião no recém-fundado Foto Cine Clube Gaúcho, onde me associei e aprendi as primeiras lições convivendo com ótimos fotógrafos.  
            Usando câmeras emprestadas, participei do primeiro concurso interno como PRINCIPIANTE. Foi meu debute em Arte Fotográfica. Meu amigo Leo Guerreiro ampliou duas fotos no laboratório do Clube, em sua primeira sede na Rua Mal. Floriano, em frente à Praça Quinze. Obtive o 2° e o 5° lugar.
            No ano de 1954, ainda na classe principiante, no fim do ano, ganhei duas “Taça de Melhor Fotografia” e a “Copa de Melhor Conjunto” e passei para a classe “médios”. Com o primeiro ganho na profissão comprei um ampliador que hoje está no Museu Vila Rica e um colega comprou para mim, na Alemanha, uma máquina barata, mas muito boa: uma Flexora.          
Em 1955 tive minha primeira foto aceita no Salão Internacional de Avellaneda, na Argentina.
            Mudei para Júlio de Castilhos e fiquei como Sócio Correspondente do FCCG por mais alguns anos.
            Não parei mais de mandar fotos para Salões Nacionais e Internacionais. Quase sempre tinha fotografias aceitas, mas nunca premiadas e minha satisfação era ver meu nome nos catálogos e receber os selos de aceite.
            Aí eu já tinha passado da Flexora, já tinha ido à Alemanha e comprado a minha Rolleiflex T, quando um amigo de Santa Cruz disse que um colega dele tinha achado na rua uma máquina pesada que não tirava boas fotografia e queria vender porque não prestava. Mandei o dobro do dinheiro que me pedia e comprei a minha Leica M3 (a mesma que Cartier Bresson usava sempre). Foi com ela que veio o meu primeiro prêmio, que eu chamo de “tiro na lua”: ganhei com um eslaide, um 2º lugar no 9º Concurso Internacional de Fotografia “Nikon”, 1977/78. Com ele, uma Nikon El2 e passei, então, a atirar com chumbo grosso em tudo que era salão e concursos, sempre levando a arte/hobby com muita seriedade.
            Conquistei até hoje 70 prêmios. Não significa muito para os 60 anos de arte fotográfica. Levei muita gente a desfrutar desse apaixonante passatempo e quero levar você também:           

CONVERSA SOBRE FOTOGRAFIA: Aos Principiantes na Arte

            A fotografia é uma arte? Sem dúvida. É uma arte visual.
            Toda a fotografia é uma obra de arte? Aí não. “Obra de arte é um artefato primoroso, artístico, bem delineado, bem executado”, segundo o Caldas Aulette.
            O que faz uma fotografia ser boa ou má, agradável ou medíocre, ótima ou fraca, atrativa ou não?
            É difícil dizer em poucas palavras. Difícil explicar o que desperta na alma o sentimento de prazer e admiração. Tudo é tão subjetivo.
            “A arte é a expressão do belo” — disse alguém. Mas, o que é o belo?
            O belo para o sapo deve ser a “sapa”, certamente!
           
            O Julgamento de uma obra fotográfica sempre vai causar polêmica. Os concorrentes sempre terão dúvidas se suas fotos são boas ou más.
            A arte nunca poderá ser avaliada por padrões exatos, matemáticos. Dois julgadores, duas opiniões. O valor da obra vai ficar ao arbítrio de cada um. Por isso é necessário que haja pelo menos três jurados nos concursos para dar uma média de opinião.      
O fotografo serve-se de uma imagem para transmitir suas ideias, sua emoção, seus pensamentos, seu estado de ânimo, seu gosto pessoal — a outros observadores.
           A imagem é a materialização do meio que um fotógrafo usa para comunicar-se com as pessoas. Há sempre o trinômio: criação – transporte – recepção.
          O autor não precisa explicara sua obra, ela se basta por si só. Se isso não acontecer houve alguma falha na criação da obra.

Sem arguir para nossa pessoa nenhuma pretensão ou sabedoria, esta simples e sucinta conversa vai tocar em alguns pontos. Oferecendo algumas ideias ou normas que regem a maioria dos Salões de Arte Fotográfica e que orientarão aqueles que querem se iniciar nesse agradável “hobby”. Não é nada nosso. Tudo compilações daqui e dali. Ou experiências que nós, eternos amadores, fotógrafos amadores em formação, fomos aprendemos com o passar do tempo: vendo, ouvindo, perguntando...
Esses itens de análise vão nos dar uma pequena ideia da foto ideal, da melhor foto.

ANÁLISE DE ARTE FOTOGRÁFICA 

                De uma maneira geral, na análise de uma foto os Jurados vão se ater a quatro qualidades principais: Visão ou concepção, Interpretação e tratamento, composição e técnica de tomada.

1 Visão ou concepção
            Uma boa fotografia deve mostrar criatividade (visão pessoal do autor), originalidade do tema apresentado por ele. Não deve ser um assunto banal, comum, confuso, imitação de outras fotos, reprodução de temas vulgares. Nem todo o por-do-sol é uma ótima obra. Precisa ter “algo mais”. Ser “fora de série”. Ter o impacto: O que faz que a gente se detenha olhando uma foto. O que desperte a atenção.

            2Interpretação e tratamento
            Uma boa foto deve ser adequada ao tema que desejamos expressar: Como o autor interpretou o tema. Qual foi o objetivo da foto.
            É importante que a foto tenha um interesse amplo, geral, de modo a sensibilizar o maior número de possíveis observadores. O ideal seria elevá-la ao nível universal.
            O julgamento de uma foto vai depender da sensibilidade dos jurados. Uns terão mais sensibilidade que outros. (Por isso vale mandar a mesma foto de novo!!!)
 A boa foto deve ter naturalidade. Ou melhor, não deve ser artificial. Nem ter um interesse restrito. Um interesse que seja limitado ou de caráter pessoal. A beleza, indiscutível, do nosso filhinho, do netinho, do gatinho, nem sempre vão tocar a sensibilidade dos outros. Volto a dizer que tem que ter o “algo mais”, que difere para cada jurado. Fora disso, será apenas e simplesmente, um documentário (até bem feito) sem valor artístico.

3Composição
            Um fator importantíssimo num trabalho de Arte Fotográfica é a Composição Artística.
Mas, o que é composição?
É o arranjo harmônico dos elementos distribuídos no quadro da obra: formas, linhas, massas, tons, luzes, sombras, etc. É o que dá o equilíbrio numa foto. Equilíbrio tonal e cromático. A harmonia das cores, nas fotos coloridas.
Composição é a disposição que o artista faz dos elementos que integram a foto para conseguir causar impacto.
 Equilíbrio: Os elementos da composição artística devem ser colocados no quadro de tal modo que não fique mais pesado para um lado da foto.
Linhas: Linhas retas — fotos pesadas. Linhas curvas — fotos leves, graciosas, suaves.
Tons: Tons claros — fotos ternas, leves, elegantes.
          Tons escuros — fotos austeras, pesadas.    
 Podemos aprender composição com os artistas plásticos. Principalmente, com aqueles que não discriminam a fotografia. Que acham que fotografia não é arte. Que é só apertar o dedinho e que a câmera faz o resto. Estes, não terão um dedinho de bom senso e aquela boa vontade que caracteriza a alma simples dos grandes artistas.
            Um artista plástico mandou que eu quase fechasse os olhos e procurasse olhar o trabalho, assim desfocado, através dos cílios. Ver se não há um peso de tons e massas para um ou outro lado, que desequilibre o todo. Ajuda mesmo, tentem!
            Um ótimo livro de pintura serve também para fotografia: “Assim se compõe um quadro” – Parramón. Se acharem, comprem.       
4 — Técnica de tomada (e outras regras fundamentais)
  Focalização: Foco no assunto principal, o resto desfocado (focalização seletiva). Evitar o mesmo valor de nitidez, tipo cartão postal.
Cuidar os elementos de profundidade (uso do campo focal). Saber onde deixar o foco (ou o desfocado).
A originalidade do ângulo de tomada. Relação espacial entre o primeiro e outro plano, que realça e dá força expressiva a imagem.
Pontos de fuga: (Elementos de perspectiva) Indica a direção do movimento. Deve se encontrar dentro da foto e não fora. (Ex.: Evitar que o cachorro ou a pessoa olhe pra fora da foto). A direção do olhar de uma foto se faz da esquerda para a direita.
Clareza: Ter o cuidado de não encher o quadro com elementos alheios ao assunto. (A poluição na fotografia!). Dar um centro principal de interesse. Muitos elementos de interesse geram confusão. O tema essencial deve ser valorizado pelos motivos complementares.
A imagem bem composta leva o olhar do observador. Muitos sujeitos, o olhar pula de um para outro. 
Unidade: Transmitir uma única mensagem.
Ênfase: Aproximar-se do assunto. Dar destaque ao assunto. Se houver, usar o zoom.
Simplicidade: “Toujour la simplicité” – Mme. Schiaparellli dizia da moda. Requisito essencial. Sempre agrada mais que a complexidade.
Ritmo: Unidade dentro da diversidade. Repetição de elementos de dimensões, ou tonalidades ou cores diferentes.  
             Regras básicas da fotografia:

              Existem duas regras básicas:
       Uma, chamada a Regra dos Terços ou Teoria dos Terços. Muito simples nas paisagens: a linha do horizonte deve ficar no terço superior ou no inferior da foto. Deve-se evitar a linha no meio, dividindo a foto em duas. Optar pela terra ou pelo céu.
O horizonte deve ficar paralelo à moldura. Nunca inclinado. Aí tem o Picasa.
A outra regra é a do Ponto Ouro. Divide-se a foto em três linhas horizontal e verticalmente. A intersecção delas é o ponto de interesse da foto. O assunto principal (uma pessoa, um animal, uma casinha, uma árvore, etc.) deve ficar próximo a um destes quatro “pontos fortes” ou “pontos de ouro” da fotografia.

A fala dos mestres:

Mortensen: “Fotografia artística é aquela que:
                       Pelo simples arranjo nos obriga a vê-la.
                       Pelo visto, olhá-la.
                       Tendo olhado, gostar!”
Cartier-Bresson: Dizem que o falecido gênio francês da arte fotográfica, dizia que devemos conhecer as regras da fotografia, para poder desobedecê-las!
Ele dizia mais:
 “É o olhar, o único meio de expressão que capta o momento. O instante, que nota a sensação de estar lá, vivendo intensamente”.
Temos que “esperar pela fotografia”.
“A grande fotografia é um presente. Um presente que lhe é oferecido, mas há o acaso. É preciso aproveitar-se dele. É o único meio de expressão em que há uma luta contra o tempo. O fotógrafo cria. Deus sabe o quê, mas, de repente. E corre o risco de deixar passar o momento...”.
“Você vê alguma coisa e pensa: devo tirar esta fotografia agora? Neste momento? Agora? A emoção aumenta... É como um orgasmo! Em um momento determinado explode. Ou pegou este momento ou falhou. É só um momento.
A fotografia é uma ansiedade contínua... Uma ansiedade silenciosa. Uma angústia muito calma”.
Retrato. O fotógrafo espera um momento interior que ele possa captar. Procura o silêncio dentro da pessoa. O silêncio das pessoas para com elas mesmas”.

A fala de um firmino qualquer:

  Se você gosta de fotografia, não ligue para nada do que eu acima apresentei nessa conversa sobre fotografia. Se tiver talento, então!...
Satisfaça, apenas, o “seu gosto”. O aprimoramento virá com o tempo e a gratificação virá para todos, com certeza.
Um conselho pessoal: Olhou, gostou, bata! Bata de novo. Outra vez, de jeito diferente, e deixe pra olhar em casa para ver se dá para aproveitar alguma coisa!

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